set, 26 2025
A proposta de Manuela Dias
A Globo chegou a um acordo com a roteirista Manuela Dias para mexer na estrutura de um dos momentos mais marcantes da teledramaturgia brasileira: a morte de Odete Roitman, a vilã que ficou eternizada na memória dos fãs. Em vez de reproduzir exatamente a cena do original de 1988, a autora quer inserir novas camadas de suspense, criando um caminho cheio de armadilhas para quem tenta adivinhar quem realmente puxou o gatilho.
No clássico, a última aparição de Odete ocorreu no capítulo 193, transmitido na véspera de Natal, com apenas 11 capítulos restantes. Três tiros certeiros, disparados por Leila (Cassia Kis), encerraram a trama e geraram um frenesi de discussões nos bailes, nas praças e até nas casas de recauchutagem de três canais. Manuela reconhece o poder desse momento e afirma que, embora a execução da morte deva permanecer fiel ao original, a narrativa que a cerca será completamente reconfigurada.
"A gente vai brincar de ‘batata quente’", explicou a autora, referindo‑se ao plano de lançar suspeitos falsos em sequência. Em cada cena subsequente, o foco das investigações mudará de um personagem para outro, mantendo o público em estado de alerta permanente. O objetivo, segundo ela, é impedir que o telespectador identifique o verdadeiro assassino antes da grande revelação no capítulo final.
Quando questionada sobre quem puxará o revólver, Manuela brincou: "Ninguém sabe, só eu. Está na minha cabeça. Não conte a ninguém ainda." Essa postura de mistério reforça a estratégia de criar um efeito de bola de neve nas redes sociais, onde teorias e palpites circulam rapidamente, alimentando a expectativa.
Estratégia de suspense da Globo
A emissora está mobilizando uma operação de bastidores considerável para garantir que a nova morte de Odete mantenha o mesmo impacto visual e emocional. As cenas decisivas serão gravadas em estúdio, com o time de produção reforçado para evitar vazamentos. Paralelamente, a Globo prepara spots promocionais que vão reforçar a importância do capítulo, destacando que algo crucial acontecerá e que o público não pode perder.
Uma mudança notável é o adiamento da exibição da cena. Ao invés de colocá‑la apenas 11 capítulos antes do final, como aconteceu em 1988, a nova versão vai inserir o assassinato entre 15 e 20 capítulos da conclusão. Esse intervalo maior possibilita que a trama explore mais detalhes, desenvolva pistas falsas e mantenha o suspense vivo por quase meio mês.
O recorde de engajamento que a morte de Odete gerou na época – com concursos de adivinhação patrocinados por marcas de alimentos e a população inteira presa à tela nas noites de domingo – serviu de lição para a Globo. Hoje, as redes sociais amplificam esse efeito: hashtags, memes e debates ao vivo podem elevar os índices de audiência e criar um buzz que atrai até quem normalmente não acompanha a novela.
Para aumentar ainda mais a sensação de jogo, a produção está inserindo cinco cenas específicas que apontam para diferentes suspeitos. Cada uma delas será cuidadosamente construída, apresentando motivos plausíveis, alibis quebrados e pequenos detalhes que confundem ainda mais o público. Apenas no último capítulo, quando todas as peças forem montadas, a verdadeira identidade do assassino será revelada, fechando o ciclo de intriga criado ao longo das semanas.
Vale lembrar que, no original, a suspeita recaiu sobre Leila, que, num acesso de ciúmes, confundiu a amante do marido com Maria de Fátima e disparou os tiros. O erro de identidade foi o que deu ao drama aquele toque trágico e inesperado. Agora, a produção quer que o público passe por uma jornada de descobertas semelhante, mas com mais reviravoltas.
O Vale Tudo original marcou época, e a nova versão tem a chance de replicar esse impacto, adaptando-o ao universo digital de hoje. Ao transformar a morte de Odete Roitman em um verdadeiro quebra‑cabeça, a Globo aposta na curiosidade humana como principal motor de audiência. Resta aguardar para ver se a estratégia vai gerar o mesmo frenesi de antigamente, mas de forma ainda mais viral.
Marcio Luiz
setembro 27, 2025 AT 16:25Essa ideia de brincar de 'batata quente' é genial. A gente já sabe que o original foi um marco, mas agora eles estão jogando no nível dos melhores thrillers de TV. Cada suspeito com alibi quebrado, cada detalhe que parece importante mas é só fumaça... isso aqui vai virar um meme antes mesmo do capítulo ir ao ar. Só espero que não caiam na armadilha de tentar ser 'moderninho' demais e perder a alma do original.
Marcio Santos
setembro 29, 2025 AT 08:00fernando gimenes
setembro 29, 2025 AT 17:47Paulo de Tarso Luchesi Coelho
setembro 30, 2025 AT 06:21Essa reinterpretação não é só um remake, é um diálogo entre gerações. O Vale Tudo de 88 era um espelho da sociedade brasileira da época - o ciúme, a desigualdade, a violência doméstica disfarçada de drama romântico. Agora, a Globo tem a chance de usar essa mesma estrutura para questionar como a mídia manipula a verdade, como as redes sociais criam culpados antes da prova, como a gente se apropria de tragédias para entretenimento. Não é só sobre quem matou Odete. É sobre por que ainda precisamos de vilãs assim. E se a verdade não for tão simples quanto um tiro?
Luciano Hejlesen
setembro 30, 2025 AT 18:02william queiroz
outubro 1, 2025 AT 05:05A estrutura narrativa proposta por Manuela Dias não apenas homenageia o original, mas o transcende por meio de uma arquitetura temporal consciente. Ao expandir o intervalo entre o assassinato e o desfecho, a produção opera uma mudança epistemológica: o suspense deixa de ser um efeito de surpresa e torna-se um processo de desmontagem cognitiva. O público não é mais enganado - é convidado a participar da construção da ilusão. Isso é arte, não entretenimento. E, se bem executado, poderá ser estudado em cursos de narrativa audiovisual daqui a vinte anos.
Adriano Fruk
outubro 2, 2025 AT 06:37Então a Globo tá querendo fazer o mesmo massacre de 88... mas agora com TikTok e hashtag. Que lindo. A gente se lembra de quando o país inteiro parava pra ver o tiro, e agora vai parar pra fazer o meme do 'quem foi?' com fundo de 'Tchau, Odete'. Vai ser o mesmo drama, só que com mais filtro e menos emoção. Mas, enfim, se isso faz o público voltar... então tá valendo. Só não esqueçam de colocar o nome da atriz que vai fazer a Odete no título do vídeo. Ela merece.
Carlos Henrique Araujo
outubro 3, 2025 AT 10:14Isabel Cristina Venezes de Oliveira
outubro 4, 2025 AT 07:40Eu lembro da noite que passou, tava com meus avós e a gente ficou em silêncio total depois que os tiros soaram. Ninguém falou nada. Só olhava pra tela como se a gente tivesse visto algo proibido. Agora, com essa nova versão, tô com medo de que o impacto se perca no meio dos memes. Mas se eles conseguirem manter aquela sensação de que algo profundo foi quebrado... então vale cada minuto. Não quero só um mistério, quero uma cicatriz de novo.