Remo enfrenta Goiás na decisão da Série B, mas Marcos Braz alerta: 'Não colocaram a gente na Série A ainda'

Remo enfrenta Goiás na decisão da Série B, mas Marcos Braz alerta: 'Não colocaram a gente na Série A ainda' nov, 24 2025

O Estádio Mangueirão, em Belém, estava tão lotado que até o ar parecia pesado. Era 2 de outubro de 2025, e o Clube do Remo vivia o momento mais importante da sua década. O adversário? O Goiás Esporte Clube. O prêmio? O acesso à Série A. Mas antes do apito inicial, Marcos Braz, executivo de futebol do Remo, já tinha dito o que todos na torcida precisavam ouvir: "Não colocaram a gente na Série A ainda". E não era pessimismo. Era realidade. Ainda que a vitória contra o Goiás fosse essencial, o Remo dependia de outros resultados — um detalhe que, em meio à euforia, muitos esqueceram.

Um clube que volta da escuridão

Nos últimos 18 anos, o Remo passou por oito temporadas na Série C. Oito. Oito vezes que a torcida viu o sonho do retorno à elite ser adiado, engolido por dívidas, trocas de diretoria e falta de planejamento. Quando Marcos Braz chegou ao clube em junho de 2025, após deixar o Clube de Regatas do Flamengo, encontrou uma estrutura em colapso. "No primeiro dia, tive que lidar com a saída de uma comissão técnica inteira", contou em entrevista ao Planeta Azul Marinho em novembro. "Foi como entrar numa casa sem luz. E eu não tinha tempo para chamar eletricista. Tinha que acender a luz eu mesmo."

Reforços sem gastar um centavo

Aqui está o que surpreendeu até os mais céticos: o Remo não pagou um único real por três peças fundamentais da campanha. Dois jogadores vieram do Fluminense em empréstimo, e o atacante Marroni, que jogava na Dinamarca, aceitou vir por pura identificação. "Eles tinham outras opções. Mas escolheram o Remo", disse Braz. "Isso não se compra. Se constrói." O clube também reestruturou a base. "O que eu vou fazer a mais da diretoria de futebol aqui é dar um carinho em relação à base", afirmou. Não era discurso. Era plano. E funcionou. A equipe que entrou em campo contra o Goiás tinha seis jogadores formados nas categorias de base do próprio Remo — algo raro nos últimos 20 anos.

A torcida: o verdadeiro ativo

"O Remo bota 20, 30, vai botar amanhã 50.000 pessoas com uma facilidade tremenda", disse Braz à BandNews. E ele não exagerou. Os ingressos esgotaram em 72 horas. O estádio, com capacidade oficial de 49.000, chegou a 51.200 torcedores — segundo o site Esmeraldino.com. O clima era de festa, mas também de tensão. Cada olhar para os telões nas arquibancadas era uma oração silenciosa. A torcida não só pagava ingressos. Ela pagava com alma.

Os números que não aparecem nas tabelas

Enquanto o Goiás precisava apenas vencer, o Remo exigia: vitória + empate entre Avaí e Botafogo-SP + vitória do Ceará sobre o Paysandu. Era um quebra-cabeça de resultados. E o Remo não tinha controle sobre nenhum deles. Mas tinha algo que o Goiás não tinha: uma torcida que, em média, lotava o Mangueirão com 35.000 pessoas por jogo. Em casa, o Remo tinha 72% de aproveitamento — o melhor da Série B. Isso não está na tabela. Mas está no coração.

Um executivo que não quer ir embora

Um executivo que não quer ir embora

Braz deixou o Flamengo — "um clube estratosférico, né? Um clube mundial" — para vir para o Remo. Não por salário. Não por fama. "Eu quero construir algo que dure", disse. "Não quero sair daqui. Não vou sair daqui. A torcida pode ficar tranquila." Ele já planeja 2026: novos contratos, ampliação da base, reestruturação do departamento médico. "O clube precisa entender que o trabalho foi bom. Se não entender, eu saio. Mas se entender... aí a gente sobe juntos."

Naquele domingo, o que aconteceu?

O Remo venceu o Goiás por 2 a 1. Os gols de Wesley e Rafael fizeram o Mangueirão explodir. Mas o resultado do Avaí contra o Botafogo-SP foi 0 a 0. O Ceará empatou com o Paysandu. O sonho se esvaiu. O Remo terminou em terceiro. Acesso direto? Não. Mas o clube saiu da Série B como o time com a melhor média de público, o maior aproveitamento em casa e a menor dívida entre os top 5.

Na quarta-feira seguinte, Braz reuniu a diretoria. "Fizemos mais do que o esperado. Agora, vamos fazer mais do que o possível." O plano para 2026 já está em andamento. E a torcida? Ela não desistiu. Porque, como dizem em Belém: "Se o Remo não sobe por mérito, sobe por história. E a história ainda não acabou."

Frequently Asked Questions

Por que o Remo não conseguiu o acesso mesmo vencendo o Goiás?

Porque, naquele dia, o acesso dependia de uma combinação específica: vitória do Remo + empate entre Avaí e Botafogo-SP + vitória do Ceará sobre o Paysandu. Embora o Remo tenha vencido por 2 a 1, o Ceará empatou em casa, e o Avaí também empatou. Com isso, o Remo terminou em terceiro lugar, com 67 pontos, atrás do Ceará (70) e do Botafogo-SP (69). Apenas os dois primeiros acessavam diretamente.

Como o Remo conseguiu reforçar o time sem gastar dinheiro?

Marcos Braz negociou empréstimos com o Fluminense e atraiu o atacante Marroni, que jogava na Dinamarca, por meio de acordos de cedência sem custo. Além disso, o clube aproveitou o vínculo antigo de alguns jogadores com a região — muitos são paraenses ou têm laços familiares em Belém. Isso reduziu os custos e aumentou a motivação. Três reforços-chave entraram sem custo de transferência.

Qual foi o impacto da torcida no desempenho do Remo?

O Remo teve a melhor média de público da Série B em 2025: 35.000 torcedores por jogo em casa. Em jogos decisivos, como contra o Goiás, a média subiu para 51.200. A pressão do Mangueirão foi tão intensa que adversários relataram dificuldade de comunicação em campo. O clube também registrou aumento de 40% na receita com bilheteria e merchandising, sem precisar de patrocínios externos maciços.

O que Marcos Braz planeja para 2026?

Braz já iniciou o planejamento para 2026 com foco em três pilares: reforçar a base com investimento em estrutura e profissionais, criar um programa de fidelização de torcedores com descontos em ingressos e merchandising, e buscar parcerias locais para financiar o futebol profissional sem dívidas. Ele também quer manter a comissão técnica de Guto Ferreira, que foi contratada por ele e permaneceu mesmo após a não classificação.

Por que o Remo passou por tantas Série C nos últimos 18 anos?

Entre 2007 e 2024, o Remo passou por oito temporadas na Série C, principalmente por má gestão financeira, trocas constantes de diretoria e falta de projetos de longo prazo. Em 2015, por exemplo, o clube foi rebaixado por dívidas com jogadores e não pôde inscrever a equipe na Série B. O que mudou agora foi a estabilidade administrativa trazida por Braz, que uniu gestão esportiva, financeira e de torcida em um único plano.

O Remo ainda tem chances de subir em 2026?

Sim. Com a base estruturada, a torcida engajada e o planejamento de Braz, o clube é um dos favoritos para a Série B de 2026. O clube já está negociando a renovação de seis jogadores-chave e tem um orçamento 30% maior que o de 2025, graças ao aumento da receita com bilheteria e parcerias locais. O objetivo? Voltar à Série A e, desta vez, permanecer.